Como a proposta deste blogue não é apenas ficar apenas tagarelando a respeito da novela Paralelo Um, mas também trazer para vocês materiais interessantes em diversos temas. Hoje, publico um conto de André Carneiro*, um dos grandes autores da ficção cientítica do Brasil e do mundo.
— Olhe como são bonitas, milhares de estrelas...
— E quase todas devem ser rodeadas de planetas como o nosso, habitados, provavelmente...
— Custa-me acreditar...
— Os cientistas dizem que há milhões, talvez trilhões de planetas, só nas galáxias mais próximas. A vida existiria como aqui.
— Devo ter pouca imaginação. Acho difícil visualizar planetas habitados, com seres iguais a nós, vivendo como nós.
— Por que “iguais e vivendo como nós”? É pretensão injustificável deduzir que só animais semelhantes tenham desenvolvidos inteligência. E os objetos de forma arredondada, vistos em nossa órbita? Muita gente os vê a olho nu.
— Não seriam pessoas sugestionáveis ou com defeitos na vista? Li num artigo: essas aparições são fenômenos naturais pouco estudados, ou máquinas voadoras feitas aqui mesmo, em experiências secretas.
— Talvez, em parte. Mas já há uma boa documentação e não vejo motivo de espanto em supor que outros planetas do nosso sistema sejam habitados.
— Mas os seres que comandam ou pilotam essas naves espaciais, por que não pousam e entram em contato?
— Não passa de orgulho gratuito pensar que habitantes de outros planetas estejam interessados em dialogar conosco. Esses engenhos talvez sejam minúsculos, comandados a distância. Estarão apenas
nos estudando com seus aparelhos? E é bem possível que eles sejam tão diferentes de nós que não haja uma possibilidade de entendimento imediato.
— Falariam línguas impossíveis de se aprender? Quem sabe emitam ruídos, ou comuniquem-se por gestos...
— Nossos cientistas acabariam descobrindo a chave. Ou eles, mais inteligentes, nos ajudariam a compreendê-la.
— Aquela estrela brilhante não é um planeta?
— É. Ali há condições para a vida. Talvez primitiva e diversa da nossa, pois sua temperatura é extraordinariamente alta.
— Escrevem muitas histórias sobre aquele planeta. Costumam inventar seus habitantes como sendo monstros destruidores, interessados em conquistar a galáxia...
— Histórias e hipóteses... Quem sabe eles têm mesmo duas antenas na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro braços e seis patas.
— Seria engraçado se fosse assim.
— Por quê?
— Pior se tivessem dois braços, um par de olhos em cima do nariz...
— Seu conceito de beleza é muito exclusivista.
— Gente normal como nós poderia se entender com monstros pavorosos?
— Fique tranqüilo. É provável que eles só existam nas histórias. E descobriram que lá a atmosfera é oxigênio puro. De mais a mais, o terceiro planeta possui só um terço de matéria sólida. O resto é uma substância líquida onde a vida é improvável.
— Esta conversa me abala os nervos. Imaginar monstros pernaltas, com dois olhos na frente. Toque aqui a antena.
— Adeus. Não pense mais no assunto. E saia com cuidado para não incomodar as crianças. Seis patas fazem muito barulho...
Fonte: André Carneiro. Planetas Habitados. In: CAUSO, Roberto de Sousa (Org.). Histórias de ficção científica. São Paulo: Ática, 2005. p. 27-30. (Para Gostar de Ler; 38)
* André Carneiro (Atibaia, 9 de maio de 1922) é poeta, romancista, contista, cineasta e artista plástico. Na literatura, ramo ao qual mais se dedicou, tem obras publicadas na Espanha, Argentina, França, Suíça, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Itália, Bulgária, Suécia, Rússia, Japão e Estados Unidos. Membro de sociedades artísticas e científicas integra a Parapsychological Association, a Science Fiction and Fantasy Writers of America, e a Academie Ansaldi, de Paris. Foi escolhido "Personalidade do Ano de 2007" pelos editores do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica.
Difícil acreditar que possam existir seres além de nós, terrestres? Egoísmo, egocentrismo? Sei lá. Gostaria mesmo de poder manter contato direto com eles, mas antes gostaria de sinalizar se não é nossa aparência que os assustam tanto e os mantêm em alerta.
ResponderExcluirNão só a aparência, acho. Nossa maneira de conviver é muito perigosa! Somos assustadores! rs. Obrigado pela visita e comentário, Laura. Abraço.
ResponderExcluirMuito bonita essa foto da nebulosa da águia. Imaginar que isso está a +/- 6500 anos luz da terra, é maravilhoso como o cosmos nos encanta, realmente Homero, os humanos procuram formas semelhantes de vida nos outros planetas, e não apenas vidas, braços, pernas, cabeça, corpo, é tudo invenção "nossa" coisas do planeta terra, a explicação é simples, o ser humano é egoísta e somente vê o mundo atravéz da lente de seu próprio conhecimento, desprezando outras formas de vida, esse é um dos motivos dos quais ainda usamos de outras vidas inocentes para nos alimentar, simplesmente porque achamos menos importantes do que nós, é o nosso cruel julgamento do mundo! Abraço e parabéns pelo blog!
ResponderExcluirAdoro essas imagens, Ademir. O universo é algo muito louco mesmo. Obrigado por seu comentário. Veja, você provou que o ser humano pode não ser egoísta, que pode dividir também... HG
ResponderExcluiroi
ResponderExcluirQual é a diferença é quem são os personagens?
ResponderExcluirFormulário de português né hmmm
Excluirlógico
ResponderExcluirTambém queria saber a resposta
ResponderExcluirpog tchmp
ResponderExcluirVocês deveriam ler o conto e entendê-lo. Afinal, ele é muito legal. Parabéns pelo blog!!
ResponderExcluirLindíssimo disse tudo!
Excluirboa mister
ResponderExcluirMisericórdia
ResponderExcluirNão sei pq tou aki;-;
ResponderExcluirObrigada por compartilhar!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar!!!
ResponderExcluirSou aluno,mas de uma coisa eu sei o universo é ainda muito desconhecido
ResponderExcluirSou professora em uma escola pública que fica na zona rural de Anapu-Pará. Não conheço os livros de André Carneiro vou selecionar um dos seus livros para ler com meus alunos.
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