quinta-feira, 14 de abril de 2011

Planetas Habitados


Como a proposta deste blogue não é apenas ficar apenas tagarelando a respeito da novela Paralelo Um, mas também trazer para vocês materiais interessantes em diversos temas. Hoje, publico um conto de André Carneiro*, um dos grandes autores da ficção cientítica do Brasil e do mundo.




— Olhe como são bonitas, milhares de estrelas...
— E quase todas devem ser rodeadas de planetas como o nosso, habitados, provavelmente...
— Custa-me acreditar...
— Os cientistas dizem que há milhões, talvez trilhões de planetas, só nas galáxias mais próximas. A vida existiria como aqui.
— Devo ter pouca imaginação. Acho difícil visualizar planetas habitados, com seres iguais a nós, vivendo como nós.
— Por que “iguais e vivendo como nós”? É pretensão injustificável deduzir que só animais semelhantes tenham desenvolvidos inteligência. E os objetos de forma arredondada, vistos em nossa órbita? Muita gente os vê a olho nu.
— Não seriam pessoas sugestionáveis ou com defeitos na vista? Li num artigo: essas aparições são fenômenos naturais pouco estudados, ou máquinas voadoras feitas aqui mesmo, em experiências secretas.
— Talvez, em parte. Mas já há uma boa documentação e não vejo motivo de espanto em supor que outros planetas do nosso sistema sejam habitados.
— Mas os seres que comandam ou pilotam essas naves espaciais, por que não pousam e entram em contato?
— Não passa de orgulho gratuito pensar que habitantes de outros planetas estejam interessados em dialogar conosco. Esses engenhos talvez sejam minúsculos, comandados a distância. Estarão apenas
nos estudando com seus aparelhos? E é bem possível que eles sejam tão diferentes de nós que não haja uma possibilidade de entendimento imediato.
— Falariam línguas impossíveis de se aprender? Quem sabe emitam ruídos, ou comuniquem-se por gestos...
— Nossos cientistas acabariam descobrindo a chave. Ou eles, mais inteligentes, nos ajudariam a compreendê-la.
— Aquela estrela brilhante não é um planeta?
— É. Ali há condições para a vida. Talvez primitiva e diversa da nossa, pois sua temperatura é extraordinariamente alta.
— Escrevem muitas histórias sobre aquele planeta. Costumam inventar seus habitantes como sendo monstros destruidores, interessados em conquistar a galáxia...
— Histórias e hipóteses... Quem sabe eles têm mesmo duas antenas na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro braços e seis patas.
— Seria engraçado se fosse assim.
— Por quê?
— Pior se tivessem dois braços, um par de olhos em cima do nariz...
— Seu conceito de beleza é muito exclusivista.
— Gente normal como nós poderia se entender com monstros pavorosos?
— Fique tranqüilo. É provável que eles só existam nas histórias. E descobriram que lá a atmosfera é oxigênio puro. De mais a mais, o terceiro planeta possui só um terço de matéria sólida. O resto é uma substância líquida onde a vida é improvável.
— Esta conversa me abala os nervos. Imaginar monstros pernaltas, com dois olhos na frente. Toque aqui a antena.
— Adeus. Não pense mais no assunto. E saia com cuidado para não incomodar as crianças. Seis patas fazem muito barulho...



Fonte: André Carneiro. Planetas Habitados. In: CAUSO, Roberto de Sousa (Org.). Histórias de ficção científica.
São Paulo: Ática, 2005. p. 27-30. (Para Gostar de Ler; 38)


* André Carneiro (Atibaia, 9 de maio de 1922) é poeta, romancista, contista, cineasta e artista plástico. Na literatura, ramo ao qual mais se dedicou, tem obras publicadas na Espanha, Argentina, França, Suíça, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Itália, Bulgária, Suécia, Rússia, Japão e Estados Unidos. Membro de sociedades artísticas e científicas integra a Parapsychological Association, a Science Fiction and Fantasy Writers of America, e a Academie Ansaldi, de Paris. Foi escolhido "Personalidade do Ano de 2007" pelos editores do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica.

18 comentários:

  1. Difícil acreditar que possam existir seres além de nós, terrestres? Egoísmo, egocentrismo? Sei lá. Gostaria mesmo de poder manter contato direto com eles, mas antes gostaria de sinalizar se não é nossa aparência que os assustam tanto e os mantêm em alerta.

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  2. Não só a aparência, acho. Nossa maneira de conviver é muito perigosa! Somos assustadores! rs. Obrigado pela visita e comentário, Laura. Abraço.

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  3. Muito bonita essa foto da nebulosa da águia. Imaginar que isso está a +/- 6500 anos luz da terra, é maravilhoso como o cosmos nos encanta, realmente Homero, os humanos procuram formas semelhantes de vida nos outros planetas, e não apenas vidas, braços, pernas, cabeça, corpo, é tudo invenção "nossa" coisas do planeta terra, a explicação é simples, o ser humano é egoísta e somente vê o mundo atravéz da lente de seu próprio conhecimento, desprezando outras formas de vida, esse é um dos motivos dos quais ainda usamos de outras vidas inocentes para nos alimentar, simplesmente porque achamos menos importantes do que nós, é o nosso cruel julgamento do mundo! Abraço e parabéns pelo blog!

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  4. Adoro essas imagens, Ademir. O universo é algo muito louco mesmo. Obrigado por seu comentário. Veja, você provou que o ser humano pode não ser egoísta, que pode dividir também... HG

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  5. Qual é a diferença é quem são os personagens?

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  6. Vocês deveriam ler o conto e entendê-lo. Afinal, ele é muito legal. Parabéns pelo blog!!

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  7. Sou aluno,mas de uma coisa eu sei o universo é ainda muito desconhecido

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